Eu já vi muitos poetas
falando sobre saudade,
da dor que a danada causa
e de sua crueldade.
Meu resumo é mais miúdo:
é a lembrança de tudo
que faz falta de verdade.

Quem tem um pé de saudade
no vaso do coração
adubado de lembrança,
regado de solidão,
vê a raiz se espalhar
sem conseguir respirar
pois vai bater no pulmão.

Saudade é uma inquilina
que aluga nossa mente
sem contrato de aluguel,
sem nos pagar mensalmente.
E ligeiro se revela
que a gente mora nela
e ela mora na gente.

A saudade se espalha
na alma feito alergia,
quanto mais a gente coça
parece até que dá cria.
Uma doença comum
que atinge qualquer um
que já foi feliz um dia!

Há quem viva nesta vida
poupando tudo que tem,
se preocupando em deixar
carro, casa ou outro bem.
Mas lhe digo uma verdade:
bom mesmo é deixar saudade
no coração de alguém.

Já vi muita evolução
pro bem da humanidade,
vi cientistas curando
tudo que é enfermidade.
Mas até hoje eu duvido
inventar um comprimido
pra aliviar a saudade.

Por mais que seja cruel,
não age com preconceito,
pelo menos nesse ponto
admiro o seu conceito
baseado em igualdade:
tem um tipo de saudade
pra todo tipo de peito.

Se abrir um coração
e revirar pelo avesso,
tem o mapa de um tesouro
que ninguém conhece o preço:
tem rua, bairro e cidade,
afinal toda saudade
tem um nome e um endereço.

Ouça este texto na voz de Bráulio Bessa:

SOBRE O AUTOR:

Bráulio Bessa Uchoa é um poeta, cordelista, declamador e palestrante brasileiro.

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