ouça “Beijo Bom”:
saudade de um beijo bom.
daqueles que a gente ganha sem esperar.
no meio do dia.
ou quando acaba de acordar.
saudade.
dizem que a saudade é a presença na ausência.
presença de beijo bom.
saudade.
há três anos a minha esposa, 38 anos, faleceu de câncer e eu me vi sozinho com meus dois filhos.
ao ouvir o diagnóstico foi como estar em meio a uma terra totalmente devastada após um terremoto. Sem saber para onde ir, nem por onde começar.
ao ouvir o diagnóstico, duvidei da minha capacidade de cuidar. Eu me perguntei diversas vezes como cuidaria dela e dos meus filhos.
eu, como a maioria dos homens, sabia o que era prover, mas não sabia o que era cuidar
mas o amor, no cenário de dor, deu o tom.
diminui a carga do trabalho na empresa e passei a acordar mais cedo para preparar o café da manhã, passei a acordar as crianças, passei a cozinhar mais, passei a colocar “todos os dias” as crianças para dormir, passei a ser o último a dormir.
passei a ver o quanto ela fazia e o quanto eu perdia na relação com ela e com meus filhos. Passei a ver o quanto deixava de receber por não viver intensamente, a rotina das pequenas coisas do lar.
homem, na maioria das vezes, não vive intensamente a rotina da casa… Alguém já viu esse filme?
a partir do diagnóstico, aprendi e passei a viver o cuidado e o amor no dia a dia, nas coisas simples, nas pequenas coisas…
na hora do banho, na hora de fazer a comida, ajudando meu filho quando ele pede para ir ao banheiro; virando a noite medindo a febre; levando e buscando na escola; participando do grupo de mães do whatsapp; dizendo não às vezes; fazendo o coque do ballet ou, ainda, tendo de costurar a fantasia. É nessas pequenas coisas, nos pequenos cuidados, que vivi o toque, que estabeleci o vínculo…
abracei mais minha família após o diagnóstico, aproveitei e aproveito a oportunidade de sentir os bracinhos deles no meu pescoço e, assim, me encosto na eternidade e tenho e vivo a chance de continuar vivo mesmo depois da morte ter chegado.
ouça “Saber Cuidar”: