Voz ao verbo 161 – Filhos

Quando a gente fala em ter filhos com sinceridade
Tem que ficar claro que sentir que está pronto e ter vontade
São coisas diferentes
O principal pra se ter em mente
É que se você estiver planejando ter uma criança
Saiba que a imperfeição dos planos
É certeza pra quem não se ilude
Mas se o desejo é o pai da coragem
A sorte é filha da atitude

Nada vai ser como planejado
E isso não significa que vai dar tudo errado
Pelo contrário, a vida surpreende
A quem se abre ao inesperado

Quando minha filha nasceu
Eu me sentia preparado
Não para ser pai, exatamente
Mas para encarar o desafio
De não saber o que viria pela frente

Eu diria: esqueça as respostas porque as perguntas vão mudar
A preocupação já não era se a gente dormiu bem
Mas se nossa filha passou bem a noite
E eu lembro que quando ele finalmente dormia,
Já era hora de acordar

Muitas vezes você vai tentar fazer seu filho parar de chorar
E, às vezes, vai acabar chorando junto. Mas vai passar
Você vai querer que ele dê o primeiro passo
Depois pedir pra que o tempo não corra
Ele vai cair, levantar, vocês vão cair na risada
E se divertir muito em tardes
Bem mais despretensiosas do que planejadas

E quando parecer não ter ideia do que está fazendo
Lembra que o amor não cabe nas certezas
E são as boas surpresas que eternizam os momentos
Você vai ouvir tanto “eu te amo”,
De quem não fala nem uma palavra
Que vai acabar aprendendo a traduzir sentimentos

Nem tudo se explica,
Mas a gente sente
Não dava pra saber como seria
Mas gente sabia que queria
E sentia que era o bastante

Se você esperar perder o medo
Pra tomar decisões importantes
A vida não muda porque a desculpa é constante:
Vai ser sempre cedo, ou muito tarde

A resposta da pergunta “quando?”
É quando, e se, você sentir vontade

Ninguém de fora pode interferir na decisão
De ter filhos, ou não
Mas se um dia você pensar
Tenta lembrar que cobrança só gera expectativa
Celebre e não espere ter certeza de nada
Com a chegada da vida, viva!

Ouça este poema na voz do poeta Allan Dias Castro:

SOBRE O AUTOR:

Allan Dias Castro é poeta e tem a escrita como base para todos os seus projetos, de letras de música a programas de tv. Formado em Comunicação Social pela ESPM-RS, cursou Escrita Criativa na Escola de Escritores de Barcelona, na Espanha.

Gaúcho radicado no Rio de Janeiro, Allan lançou seu primeiro livro, O Zé-Ninguém, em 2014. Suas letras já foram musicadas por grandes nomes, como Roberto Menescal, e ele já declamou seus poemas ao lado de artistas como Oswaldo Montenegro e Marcos Suzano.

Desde 2016, integra o Reverb Poesia (@reverbpoesia), banda que viaja por todo o Brasil apresentando sua mistura de música e poesia falada. Com o Voz ao Verbo, projeto de vídeos com poemas autorais que deram origem a este livro, busca facilitar o acesso do público à poesia.

“Poeta é quem toma liberdades com a língua e o Allan Dias Castro faz isso com maestria. Sua poesia, sua prosa poética, seus epigramas e aforismos – e suas letras de musica – são exercícios de extrema liberdade. E entre o lírico, o satírico e o bem bolado, ele nos leva junto em cada voo.” Apresentação de Luis Fernando Verissimo para “O Zé-Ninguém”, livro lançado em 2014.

Você pode ler mais e conhecer o Allan Dias Castro: allandiascastro.com.br

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