Eu sempre quis ser pai. Minha esposa brincava que, se dependesse de mim, casaríamos grávidos.

Então, logo veio a Maria Clara. E aquela história de que você se sente pai somente quando vê seu filho ao nascer, comigo não foi assim.

Quando eu a vi pela primeira vez, com a pele vermelhinha, demorando segundos para dar o primeiro choro eu tive medo, medo de perdê-la. Ela mal havia nascido e eu tive medo. Após o parto, já em segurança, a enfermeira colocou-a no carrinho e nós dois saímos. Fiquei ao lado, segurando firme o carrinho como se estivesse segurando-a no colo. No corredor, saindo do centro cirúrgico, vejo todos da família e, ainda de longe, o meu olhar cruzou com o do meu pai, eu me emocionei. Eu era pai, eu estava pai, eu me vi pai aos olhos dele. Fui criado como um menino. É. Eu fui criado, tradicionalmente, como um menino. Tive a referência feminina de minha mãe, mas a tradição perdurou.  Como eu conseguiria educar e criar uma menina? Eu não estava preparado.

Era meu sonho ter o segundo filho e, aí, veio o Francisco 4 anos depois da Maria. E, com ele, o receio de não dar conta de tudo, de não cumprir o papel de provedor da casa aumentou. Fiquei com mais medo, ainda persistia em mim as ideias masculinas de comportamento e conduta. Eu não queria este mundo para a minha filha e não queria que meu filho seguisse os meus padrões. Como eu conseguiria educar mais um filho, agora, um menino? Definitivamente, eu não estava preparado.

Nós, homens, não nos preparamos para o papel mais importante das nossas vidas. Podemos até desejar, como eu desejei, mas não nos preparamos para a paternidade, melhor, não nós preparamos para a humanidade de sermos e estarmos para nós e para o outro.

Ser pai vai além do papel social de ser o provedor da casa, de termos que dar conta de tudo. Eu venho aprendendo isso.

Dez meses após o nascimento do Francisco, veio o diagnóstico do câncer da Micaela. E eu não sabia o que fazer da nossa vida. Eu não sabia como me portar diante de minha esposa e dos meus filhos.

Tive de aprender a viver uma jornada quase dupla. Diminui a carga do trabalho no escritório e passei a acordar mais cedo e dormir mais tarde. Passei a ver o quanto ela fazia e o quanto eu, como pai, perdia na relação com ela e com meus filhos e o quanto deixava de receber por não estar presente na rotina das pequenas coisas do lar. Preocupava-me com a sobrevivência e o sustento da casa.

Idealizamos uma paternidade sempre no futuro, imaginando aquele pai que você pode e quer ser.

Mas a paternidade verdadeira se exerce no presente, no dia a dia, nas coisas simples, nas pequenas coisas… Na hora do banho, na hora de fazer a comida, ajudando seu filho quando ele pede para ir ao banheiro, virando a noite medindo a febre, levando e buscando na escola, participando do grupo de mães do whatsapp, dizendo não às vezes, fazendo o coque do ballet ou, ainda, tendo de costurar a fantasia. É nessas pequenas coisas, nesses cuidados, é no toque, no estar junto que criamos o vínculo.

E sabe aquela história de que você se sente pai somente quando vê seu filho nascer? É mentira, acredite. Nos tornamos pais estando presente no dia a dia, construindo vínculos que nos dão a oportunidade de (sentirmos os bracinhos deles no nosso pescoço) e, assim, encostamos na eternidade e temos a chance de continuarmos vivos mesmo depois que a morte chegar.

Esta é a nossa chance, é hoje.

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AUMENTA O SOM 🔊🎧 Rafael Stein sempre sonhou em ser pai, mas nada foi capaz de prepará-lo para a paternidade. “Sabe aquela história de que você se sente pai quando vê seu filho nascer? É mentira, acredite.” A morte da esposa, em 2018, o fez redescobrir seu papel em casa e na criação dos filhos e enxergar a potência transformadora dos vínculos nos pequenos momentos do cotidiano: na hora do banho, da comida, virando a noite medindo febre, fazendo o coque do balé, costurando a fantasia rasgada. No dia a dia da paternidade solo, Rafael reescreve a história da sua família – e a sua própria. Aperte o play no #EscutaBloom de hoje para ouvir o depoimento emocionante e emocionado de @rafaelstein , co-fundador da Escola de Pai, COO da Smart Money Ventures, escritor e pai da Maria Clara e do Francisco. No mês de agosto vamos ouvir muitos pais, com diferentes experiências e estilos de vida, para que compartilhem suas alegrias, angústias, desafios e prazeres de cuidar todos os dias de seus filhos. Porque é compartilhando e se conectando que a gente constrói um novo olhar para a paternidade. #paternidade #paipresente #igualdadedegenero #geraçãoigualdade

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